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Loucura Londrina | Aventuras Em Blog

Um Português A Aprender a Viver Em Londres, E Nem Sempre Da Maneira Mais Fácil

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Loucura Londrina | Aventuras Em Blog

01
Dez09

O Homem Que Murmura Sozinho - 2

Peter WouldDo

“Sorry, what time is it?”, pergunto receoso.

Ele pára, estático, a olhar para mim.

Segundos depois olha para o relógio e atira: “A quarter to six.”

“Thanks”, respondo eu.

Sinto agora que já fui mais longe do que alguma vez iria.

Se bem que perguntar as horas não é o mesmo que perguntar o que ele murmura.

Mas já entrei na zona de desconforto.

Há umas semanas atrás o professor de guionismo disse que deveríamos fazer isso mais vezes.

Sair da zona de conforto e fazer coisas que em circunstâncias normais não faríamos.

Diz ele que isso nos ajuda a criar melhores personagens.

Talvez.

Mas reconheço que não é fácil, apesar de estar a viver numa cidade onde ninguém me conhece e onde posso fazer isso sem consequências de maior.

Há umas semanas atrás parei a olhar fixamente para umas miúdas que estavam a gozar quase toda a gente no metro.

Obviamente que ao fazer isso tornei-me no centro das atenções delas.

E passei a ser eu o alvo do seu gozo.

No momento em que elas se viraram para mim senti que já não havia forma de voltar atrás e só poderia levar as minhas acções em diante.

Como elas já tinham gozado quase toda a gente na carruagem, fazendo referências à roupa ou ao estilo dos cabelos, resolvi usar isso em meu favor.

Toda a gente já estava a ficar farta delas.

E quando comecei a fazer-lhe caretas, toda a gente se riu.

Fazendo com que fossem elas a sentirem-se envergonhadas.

Nessa altura elas teriam duas possibilidades: sair na estação seguinte para acabar com o momento desconfortável, ou aumentar ainda mais a animosidade para comigo e tentarem fazer-me parar.

Infelizmente optaram pela segunda.

Começaram a usar calão inglês.

Parte dele não percebi.

Voltava a estar em inferioridade.

Reparando que chegaríamos à paragem onde teria de sair, usei isso em meu favor.

Levantei-me bruscamente, levando-as a encostarem-se para trás no banco com medo que lhes fosse fazer alguma coisa.

Parei quieto sem dizer nada, o que ainda aumentou mais o suspense.

Por essa altura tinha toda a carruagem a olhar para mim e a tentar adivinhar o que iria eu fazer a seguir.

Quando o metro parou disse, em português:

“Xau meninas feias”.

E saí.

Elas ficaram sem reacção.

A olhar para mim, acho.

Porque nem para trás olhei.

Acho que ganhei o combate.

Mas a minha maior vitória foi ter conseguido sair dessa tal zona de conforto.

No início é difícil, mas reconheço que depois se torna engraçado.

O mais provável é que nunca mais volte a ver aquelas miúdas.

E foi a pensar nisso que levei a “brincadeira” até ao fim.

O homem que murmura foi-se embora.

E como já passa das seis, acho que vou fazer o mesmo

O café fecha às seis e meia.

Quase sem que me apercebesse escrevi cinco páginas de texto.

Nada mau, para uma tarde de domingo chuvoso.

30
Nov09

O Homem Que Murmura Sozinho - 1

Peter WouldDo

Sentado numa mesa à minha frente está um homem.

Calvo, aparenta ter menos de 40 anos.

Passa maioritariamente o tempo curvado sobre a mesa, de forma a poder ler de perto o jornal The Sun, que tem aberto.

Mas quando não está curvado sobre a mesa, está com o dorso recto e os braços cruzados atrás da cabeça.

A espreguiçar-se e a bocejar.

Algo que acontece a cada dois parágrafos de leitura.

Mais ou menos a cada minuto.

Quando repete este ritual o homem também fala.

Melhor, murmura.

Sozinho.

O Starbucks onde nos encontramos é junto a um hospital.

O que me leva, num primeiro raciocínio, a considerá-lo um paciente.

Mas uma observação mais cuidada elimina essa possibilidade.

Junto a si, no chão, está um saco desportivo acompanhado de um saco plástico de uma conhecida cadeia de material desportivo.

Apesar da temperatura estar amena dentro do café, o homem que murmura é o único com o casaco vestido.

Pela restante roupa que veste dá para perceber que não é pobre, apesar de também não demonstrar-se abastado.

“Brrrrrrrr, que frio”, penso.

Alguém entrou no café e deixou a porta aberta.

Lá fora chove.

Uma chuva que me levou a mudar de planos, depois do autocarro onde viajava ter terminado a viagem, sem que nada o fizesse antecipar, mesmo em frente ao hospital.

“This bus terminates here”, ouvimos, nós passageiros.

E tivemos de abandoná-lo.

Algo que acontece com alguma frequência em Londres.

O homem coça agora a cabeça como que muito pensativo.

Continua a leitura das páginas desportivas.

Tento pensar em alguma figura pública com ele se pareça, mas ninguém me vem à cabeça.

Não haverá ninguém famoso que seja calvo e com o pouco cabelo que resta ondulado.

Bem, até me veio um actor português à memória, mas não me lembro do nome.

E como não tenho internet, não posso pesquisar o nome dele.

Lembro-me que entra frequentemente em telenovelas.

E que fez há anos uma série que se não estou enganado se chamaria “Pai de Família”, ou algo do género.

O nome Luís vem-me à memória, mas não o apelido.

Por esta altura já estará a pensar o leitor no que murmura o homem.

Não.

Já tentei perceber, mas não consegui.

Por segundos cheguei a pensar que cantarolava a letra de uma música que tocava baixinho.

Mas o playback não batia certo.

Lembrei-me agora que o melhor mesmo seria tirar uma fotografia ao homem, para que todos acreditassem em mim.

Tenho no bolso o telemóvel.

E até sou perito em disfarçar quando tiro fotografias.

Já tenho o telemóvel programado para não disparar o flash.

Qualquer dia explico porquê.

Aqui vai.

Se sair algo de jeito publico no espaço a seguir esta linha.

Aqui.

 

 

A senhora do chapéu, que estava sentada no canto da sala, vai-se embora.

Quando entrei reparei que ela estava a desenhar uma outra mulher sentada a seu lado.

Uma que tinha um casaco azul bebé.

Não são frequentes os casacos azuis bebé em Londres.

Muito menos idosas sentadas em cafés a pintar mulheres vestidas com casacos azuis bebé, ou homens a murmurar sozinhos palavras que mais ninguém percebe.

Por isso resolvi relatar tudo isso nestas linhas.

Vou dar mais uma dentada num dos donuts que comprei no supermercado, antes de vir para aqui.

Ficava muito mais barato.

O Tesco, uma espécie de Modelo cá na Inglaterra, está a vender três donuts por uma libra.

Cerca de 1,10 euros.

Pechincha, acho.

Ainda não disse que desde a passada terça-feira ando numa dieta ao chocolate.

Não vou comer chocolate pelo menos durante duas semanas.

Uma está quase passada, já que hoje é domingo.

Resolvi fazer esta dieta porque andava a comer demasiado chocolate.

Não é a primeira vez que faço algo do género.

Como sou muito guloso, de vez em quando sinto a necessidade de não comer chocolate ou qualquer tipo de doces.

Desta vez é só chocolate, embora também esteja a comer menos doces.

Há dias fui ao cinema e não levei as minhas amigas gomas, para me acompanhar.

Acho que isso não teve influência na forma como vi o filme, mas a verdade é que não gostei muito.

Vi o último dos irmãos Cohen.

Em inglês chama-se “A Serious Man”.

Já estou na terceira página de texto do Word.

Acho que este deve ser dos maiores textos que já postei.

Estou curioso em saber se alguém o irá ler até ao fim.

Pode ser que quem o faça, me diga que o fez, comentando.

E se o fizer, também pode acrescentar se gostou.

Eu ficaria agradecido.

Reconheço que como tenho andado ausente do blog, o número de leitores diminuiu drasticamente.

Pudera.

Ir uma, duas, três vezes a um site e ver que não actualizado só pode levar ao esquecimento desse blog.

O homem continua a murmurar.

Desta vez mais alto que o costume.

De há uns dias para cá tenho andado com pensamentos fora do vulgar.

Em quase todos os lados onde estou penso em formas de actuar de forma como nunca actuaria.

Penso que neste momento isso passaria por meter conversa com o homem que murmura.

Mas na verdade é que não sei se tenho coragem.

Por isso mesmo seria um verdadeiro desafio.

Acho que poderia perguntar as horas.

Já seria falar com ele.

Não é o mesmo que perguntar-lhe o que murmura.

Mas já seria um começo.

Ganhando a confiança dele poderia depois fazer a segunda pergunta.

Hummmm.

Estou mesmo tentado.

Ele continua a espreguiçar-se.

Deu agora para ver que ele tem relógio de pulso.

Só tenho de esconder o meu.

Ups.

Tenho as horas no computador.

Será que ele repara nisso?

Bora lá meter conversa.

 

13
Out08

Notting Hill pode ser um problema

Peter WouldDo

 

Hoje [segunda-feira] tinha uma entrevista marcada para o café de um clube de ténis, em plena zona de Notting Hill, uma das mais ricas de Londres.

Lá tive eu de me aperaltar.

Banhinho, roupa nova, perfuminho, gelinho no cabelo e um sorriso de orelha a orelha.

Foi uma entrevista rápida a rondar os 20 minutos, mas apaixonei-me três vezes, e uma delas pela gerente que me fez a entrevista.

Na quinta-feira, ao que tudo indica, farei algumas horas de experiência.

Mas acho que não vou conseguir superar esse calvário.

Se em 20 minutos me apaixonei três vezes, não sei o que poderá acontecer em três horas, por exemplo.

Só por isso.

Queria aproveitar a oportunidade para pedir ao “destino” para que não seja este o meu futuro trabalho em Londres.

O sofrimento seria imenso e não sei se estarei preparado.

Já agora, a gerente chama-se Gigi, é loira, tem olhos azuis e outras qualidades que não vou estar aqui a enumerar.

Mas mesmo as simples praticantes amadoras de ténis não se fazem rogar no que à beleza diz respeito.

Já de saída do clube deparei-me com quatro Porsches estacionados à entrada.

Bem, acho que sempre irei fazer a experiência.

Mas só porque há lá uma mesa de ping-pong e eu já não pratico há muito.

Ou há alguém que pense que há outros motivos??

 

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