Ontem chegou uma chamada telefónica ao departamento onde trabalho pedindo para que uma encomenda fosse levada da recepção ao gabinete do Al-fayed (pai do gajo que morreu com a Diana), e dono do tasco.
De seguida vi o chefe que recebeu a chamada a levantar a cabeça à procura de alguém para enviar.
E escolheu-me a mim.
Quando me disse o que tinha de fazer até senti algum orgulho por ter sido o escolhido.
Pelo meio das explicações, revelou-me que a encomenda tinha de passar primeiro por uma máquina de raio-x, na segurança.
Lá segui caminho.
Durante o percurso pus-me a pensar e cheguei à conclusão de que a honra não tinha sido assim tão grande.
Pelo contrário: eu estava a correr perigo de vida, no caso de dentro da encomenda estar uma bomba.
“Mas o que terá levado o chefe a escolher-me a mim? Qual terá sido o critério?”, questionava-me.
A primeira coisa que me veio à cabeça foi o facto de eu não ter filhos, ao contrário de quase todos os outros colegas:
“Aquele tuga ali ainda não tem descendentes por isso não faz falta nenhuma. Huuum, mas ainda pode vir a ter ao contrário dos velhos…
Irrra, que se foram feios como ele…
É mesmo esse que escolho”, deve ter ele pensado.
Outra hipótese plausível é a minha simples insignificância:
“Vou escolher aquele ali que se morrer não faz cá falta”, pode também ter passado pela cabeça dele.
Nos dias que correm, a religião também não é de pôr de lado:
“Ora bem… os hindus não porque a Índia já foi uma ex-colónia nossa.
Islamitas nem pensar porque a haver bomba na encomenda foi colocada por eles e depois a vingança ainda seria maior.
Fico com os judeus e os palestinianos…
Palestinianos não, porque com os bombardeamento cada vez há menos.
Judeus também não, porque o Tony Blair está em Israel e ainda lhe faziam mal…
Não tenho outra escolha…
Espera lá, está ali aquele cristão a olhar e que ainda por cima é do país do Cristiano Ronaldo. Que se lixe o gajo.”
A orientação sexual também não pode ser excluída:
“Ora… mulheres não porque fazem cá falta.
Os velhotes não fazem concorrência.
Os islamitas é que era de arrumar com eles porque podem casar com quatro mulheres… mas por outro lado no paraíso teriam mil virgens…
Olha-me aquele macho latino ali escondido. Já te fo…es”
A verdade é que a encomenda não tinha bomba nenhuma.
Mesmo assim não me livrei de uma salva de palmas ao entrar no departamento.
Como um herói que acaba de sobreviver a uma rajada de tiros.
Bem, o chefe também pode ter pensado que eu seria o único a conseguir sobreviver a uma forte explosão…
“Peter, wake up. Your break is finish”, disse-me um colega.
Tinha adormecido durante a minha meia hora de descanso e a sandes de fiambre e a banana tinham ficado por comer.