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Loucura Londrina | Aventuras Em Blog

Um Português A Aprender a Viver Em Londres, E Nem Sempre Da Maneira Mais Fácil

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30
Nov09

O Homem Que Murmura Sozinho - 1

Peter WouldDo

Sentado numa mesa à minha frente está um homem.

Calvo, aparenta ter menos de 40 anos.

Passa maioritariamente o tempo curvado sobre a mesa, de forma a poder ler de perto o jornal The Sun, que tem aberto.

Mas quando não está curvado sobre a mesa, está com o dorso recto e os braços cruzados atrás da cabeça.

A espreguiçar-se e a bocejar.

Algo que acontece a cada dois parágrafos de leitura.

Mais ou menos a cada minuto.

Quando repete este ritual o homem também fala.

Melhor, murmura.

Sozinho.

O Starbucks onde nos encontramos é junto a um hospital.

O que me leva, num primeiro raciocínio, a considerá-lo um paciente.

Mas uma observação mais cuidada elimina essa possibilidade.

Junto a si, no chão, está um saco desportivo acompanhado de um saco plástico de uma conhecida cadeia de material desportivo.

Apesar da temperatura estar amena dentro do café, o homem que murmura é o único com o casaco vestido.

Pela restante roupa que veste dá para perceber que não é pobre, apesar de também não demonstrar-se abastado.

“Brrrrrrrr, que frio”, penso.

Alguém entrou no café e deixou a porta aberta.

Lá fora chove.

Uma chuva que me levou a mudar de planos, depois do autocarro onde viajava ter terminado a viagem, sem que nada o fizesse antecipar, mesmo em frente ao hospital.

“This bus terminates here”, ouvimos, nós passageiros.

E tivemos de abandoná-lo.

Algo que acontece com alguma frequência em Londres.

O homem coça agora a cabeça como que muito pensativo.

Continua a leitura das páginas desportivas.

Tento pensar em alguma figura pública com ele se pareça, mas ninguém me vem à cabeça.

Não haverá ninguém famoso que seja calvo e com o pouco cabelo que resta ondulado.

Bem, até me veio um actor português à memória, mas não me lembro do nome.

E como não tenho internet, não posso pesquisar o nome dele.

Lembro-me que entra frequentemente em telenovelas.

E que fez há anos uma série que se não estou enganado se chamaria “Pai de Família”, ou algo do género.

O nome Luís vem-me à memória, mas não o apelido.

Por esta altura já estará a pensar o leitor no que murmura o homem.

Não.

Já tentei perceber, mas não consegui.

Por segundos cheguei a pensar que cantarolava a letra de uma música que tocava baixinho.

Mas o playback não batia certo.

Lembrei-me agora que o melhor mesmo seria tirar uma fotografia ao homem, para que todos acreditassem em mim.

Tenho no bolso o telemóvel.

E até sou perito em disfarçar quando tiro fotografias.

Já tenho o telemóvel programado para não disparar o flash.

Qualquer dia explico porquê.

Aqui vai.

Se sair algo de jeito publico no espaço a seguir esta linha.

Aqui.

 

 

A senhora do chapéu, que estava sentada no canto da sala, vai-se embora.

Quando entrei reparei que ela estava a desenhar uma outra mulher sentada a seu lado.

Uma que tinha um casaco azul bebé.

Não são frequentes os casacos azuis bebé em Londres.

Muito menos idosas sentadas em cafés a pintar mulheres vestidas com casacos azuis bebé, ou homens a murmurar sozinhos palavras que mais ninguém percebe.

Por isso resolvi relatar tudo isso nestas linhas.

Vou dar mais uma dentada num dos donuts que comprei no supermercado, antes de vir para aqui.

Ficava muito mais barato.

O Tesco, uma espécie de Modelo cá na Inglaterra, está a vender três donuts por uma libra.

Cerca de 1,10 euros.

Pechincha, acho.

Ainda não disse que desde a passada terça-feira ando numa dieta ao chocolate.

Não vou comer chocolate pelo menos durante duas semanas.

Uma está quase passada, já que hoje é domingo.

Resolvi fazer esta dieta porque andava a comer demasiado chocolate.

Não é a primeira vez que faço algo do género.

Como sou muito guloso, de vez em quando sinto a necessidade de não comer chocolate ou qualquer tipo de doces.

Desta vez é só chocolate, embora também esteja a comer menos doces.

Há dias fui ao cinema e não levei as minhas amigas gomas, para me acompanhar.

Acho que isso não teve influência na forma como vi o filme, mas a verdade é que não gostei muito.

Vi o último dos irmãos Cohen.

Em inglês chama-se “A Serious Man”.

Já estou na terceira página de texto do Word.

Acho que este deve ser dos maiores textos que já postei.

Estou curioso em saber se alguém o irá ler até ao fim.

Pode ser que quem o faça, me diga que o fez, comentando.

E se o fizer, também pode acrescentar se gostou.

Eu ficaria agradecido.

Reconheço que como tenho andado ausente do blog, o número de leitores diminuiu drasticamente.

Pudera.

Ir uma, duas, três vezes a um site e ver que não actualizado só pode levar ao esquecimento desse blog.

O homem continua a murmurar.

Desta vez mais alto que o costume.

De há uns dias para cá tenho andado com pensamentos fora do vulgar.

Em quase todos os lados onde estou penso em formas de actuar de forma como nunca actuaria.

Penso que neste momento isso passaria por meter conversa com o homem que murmura.

Mas na verdade é que não sei se tenho coragem.

Por isso mesmo seria um verdadeiro desafio.

Acho que poderia perguntar as horas.

Já seria falar com ele.

Não é o mesmo que perguntar-lhe o que murmura.

Mas já seria um começo.

Ganhando a confiança dele poderia depois fazer a segunda pergunta.

Hummmm.

Estou mesmo tentado.

Ele continua a espreguiçar-se.

Deu agora para ver que ele tem relógio de pulso.

Só tenho de esconder o meu.

Ups.

Tenho as horas no computador.

Será que ele repara nisso?

Bora lá meter conversa.

 

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