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Loucura Londrina | Aventuras Em Blog

Um Português A Aprender a Viver Em Londres, E Nem Sempre Da Maneira Mais Fácil

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Loucura Londrina | Aventuras Em Blog

29
Dez09

A minha aldeia quer casar-me

Peter WouldDo

 

Eu sou um moço de aldeia.

Com cerca de três mil habitantes nos arredores de Guimarães.

E por vezes sofro muito com isso.

Os últimos quatro dias que lá passei foram muito intensos.

Toda a gente me quer casar.

“Já tens namorada?”, era a frase que seguia o habitual “Olá”.

À resposta negativa demonstravam admiração.

Para os meus conterrâneos não faz sentido eu ainda continuar solteiro.

E por isso juntaram-se para me resolver o “problema”.

Recebi bolos rei decorados com fotos das filhas solteiras.

Sempre que me cruzava com alguma moça com idade para já ter juízo ela deixava cair algo.

Um lenço, por exemplo, na esperança que eu o apanhasse para elas poderem dizer: “Salvaste a vida ao meu lenço. Estarei-te sempre grata. Em que é que te posso ajudar?”

As primeiras ocorrências deste género deixaram-me enternecido.

Quando as mães com filhas por casar começaram a fazer marketing comecei a responder com risos amarelos.

No momento em que a própria família entra na campanha “Vamos casar o Peter” a piada evapora-se toda.

Uma prima que tenta aproximar-me de uma outra prima…

“A minha prima é perfeita para ti e assim só tenho que dar uma prenda no casamento!”

Até os próprios sobrinhos se juntaram numa espécie de manifestação com palavras de ordem e cartazes dizendo: “Queremos uma tia fixe! Já!”

Aqueles que poderiam ser quatro dias maravilhosos para rever as minhas origens acabaram por ser… não um inferno, mas quase.

Senti-me demasiado perto de altar.

À noite acordava com pesadelos de que poderia acordar no altar, atado a uma cadeira com o padre a perguntar se aceitava a mão dela em casamento.

Olhava para o lado e gritava.

Com o grito acordava e não cheguei a ver a face dela.

Mas para gritar…

19
Mar09

A minha aldeia

Peter WouldDo

É tão bom regressar à nossa aldeia, e rever gente que nos conhece desde pequenos.

É sentirmo-nos em casa.

E a sensação de termos imensa gente a quem darmos bom dia é sensacional, faça-se a redundância.

E as pessoas lá vão respondendo:

- Olá Luís.

 

Tudo seria perfeito se fosse esse o meu nome.

Mas não é.

É o do meu irmão.

Bem mais velho.

E como ele viveu toda a vida na aldeia - superior já a 40 anos - as pessoas usam o nome dele para nós os dois.

Será o mesmo que chamar Planta a todas as margarinas [tinha escrito manteigas].

Ou Kispo a todos os casacos feito num pano que faz barulho quando roçamos as mangas no corpo.

Há uns anos atrás, quando era ainda um sonhador e pensava ser possível não me chamar Luís na minha aldeia, eu ainda corrigia as pessoas.

- Não é Luís, é Pedro.

- Ah pois é. Desculpa, mas confundo-me sempre.

- Eu sei, rosinha.

- Rosinha!? Não me chamo Rosa!

- Ah pois é, Desculpe.

Mas penso ter sido por volta dos 20 anos que me resignei a ter dois nomes.

Aquele que uso em S. Cristóvão de Selho, a minha aldeia.

E que é o do meu irmão.

E o que uso no resto do mundo, e é o meu nome de batismo.

 

Uma explicação.

Quem nunca viveu numa aldeia desconhece que as mulheres mudam de nome por altura do casamento.

Uma espécie de ritual de amadurecimento.

Quem é Rosa fica rosinha.

As Laurindas passam a laurindinhas.

Maria é substituído por miquinhas.

Teresinha é o substituto de Teresa.

Fátima dá lugar a fatinha.

Estes só para me referir às mulheres da minha rua.

Os “inhas” das aldeias serão o equivalente aos “donas” das cidades.

 

Regressar à aldeia de onde saí há nove anos pode também ser estranho.

Uns crescem, outros mudam-se, e a percentagem de pessoas que conheço desce a pique. Actualmente, as caras que conheço rondarão os 30 por cento.

Já os nomes não serão mais de 5 por cento.

Isto num universo a rondar os 3000 habitantes.

E tirando a minha família (cerca de 10 pessoas) mais uns quantos amigos, serei para sempre Luís, em S. Cristóvão de Selho.

É tão bom sentir-me em casa…

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