Os ruidos do Fidel
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São 00:18 e acabei de chegar com a terceira carga.
Estou todo roto.
Posso dizer que em vez das oito horas a trabalhar estive sete dentro do metro.
Li tudo o que havia para ler.
Três jornais grátis e algumas páginas de uma revista que comprei.
Completei dois Sudokus dos mais difíceis.
E ainda dormi por uns minutos, sem deixar passar a estação certa.
Mas, o mais interessante é que ainda deixei algumas coisas no quarto.
A Magda, simpática, deixa-me lá ir no domingo buscar.
Será aí a despedida final.
E por isso, só na segunda posso contar TODA A VERDADE SOBRE A MAGDA.
Desculpem lá o suspense, mas depois da despedida faz mais sentido.
Agora vou fazer a cama para dormir.
Amanhã tenho de me levantar às seis.
Menos duas horas de sono para acumular às que não tenho dormido.
No entanto vem aí um fim de semana de folga.
Segunda-feira, já sabem, um post à maneira.
Hoje vou mudar de quarto.
Ah, e de casa também.
Caso contrário iria para o quarto da Magda.
Sei que muitos dos leitores deste blog vão ficar tristes com o fim das estórias da Magda.
Mas tinha de tomar esta decisão.
Para além de me sentir sozinho, já estava sem paciência para algumas coisas que se passavam cá em casa.
Mesmo assim vou cumprir o prometido, e contar tudo o que sei sobre esta rapariga chamada Magda.
Mas não hoje.
Aguentem só mais um bocadinho.
Amanhã conto mais sobre o novo poiso.
Uma das arrumações de casa de banho que sempre gostei de ter é a colocação do rolo de papel higiénico voltado para fora.
Passo a explicar: a ponta do papel higiénico deve vir desde a parede pela parte superior do rolo.
Se não entenderam, vejam a foto.
Esta é a forma como gosto de o ter.
É interessante contar que sempre que vou a qualquer casa de banho deixo sempre o papel colocado dessa forma.
Isto, à excepção das casas de banho públicas com aqueles sistemas que não me permitem o acesso ao rolo.
Até recentemente tive a sorte de viver com pessoas que tinham gostos iguais aos meus no que se refere à colocação do rolo de papel higiénico.
Ou então, estavam-se a marimbar quanto a isso e apenas queriam que ele estivesse lá.
Mas, recentemente, o meu bem-estar higiénico foi abalado.
Vivo uma instabilidade constante com mudanças quase diárias do rolo de papel higiénico.
A Magda gosta dele colocado da outra forma.
Já não sei o que fazer, para além de voltar a colocá-lo “à minha maneira”.
Uma das ideias que me surgiu foi colocar um aviso - igual aos dela – dizendo para me deixar ser feliz.
Seria qualquer coisa assim:
“Por favor, deixeim o rolo colocado desta forma. Minha felicidade depende diço. Peter”
Com esta mensagem estaria a dar continuidade à média de um erro por cada cinco palavras.
E com o meu nome a assinar, a Magda saberia que não foi ela própria a escrever o aviso.
Nunca se sabe…
Um dia chego a casa e deparo-me com o seguinte aviso na janela da cozinha, mesmo por cima do lava-loiça.
O papel mais pequeno, em baixo, foi a minha resposta.
Naquele momento não tinha mais nada para dizer.
Só podia responder na mesma “moeda”.
Literalmente da mesma forma.
E quando digo forma, refiro-me também ao ditongo “em” com um “i” pelo meio.
Mas, o que mais me irritou naquele aviso foi a parte do “Não quero e não gosto”.
Nunca ninguém me tinha dito isso.
Já me tinham dito “não gosto e não quero”.
Mas nunca naquela ordem.
Por isso, fiquei mesmo sem saber o que dizer.
E só quando olhei pela segunda vez para o papel e me apercebi que tinha sido a Magda a escrever, entrei em pânico.
Juro que, apesar de saber que só moramos nós os dois cá em casa, pensava que tinha sido outra pessoa a escrever aquilo.
E para que ela não pensasse que me poderia dar um ataque do coração ao descobrir que tinha sido ela e não ficasse preocupada comigo, disse-lhe que estava “Tudo beim” comigo.
Só me esqueci da palavra “comigo”.
E de colocar o meu nome.
Será que ela soube quem escreveu a resposta?
Julgo que a Magda foi atacada por alguma espécie de vírus que provoca alguns sintomas complicados quando se vive em comunidade.
O primeiro desses sintomas de que me apercebi é a cleptomania.
Há algumas semanas atrás apercebi-me que o meu amaciador de roupa estava a desaparecer mais rapidamente que uma lavagem por semana, a utilização que lhe dou.
Não foi pelo valor (custou menos de uma libra) mas pela curiosidade que lhe coloquei uma marca com uma caneta permanente.
Um pequeno traço imperceptível ao olho brasileiro (isto é uma piada).
Na semana seguinte o nível de amaciador estava mais baixo que a marca.
Lembro que na casa só vivo eu e a Magda.
O segundo sintoma do vírus de que a Magda terá sido atacada é a desculpabilização.
Na semana passada deparei-me com dois avisos iguais dentro do armário dos líquidos e detergentes.
Um estava colocado no detergente para a roupa e o outro no amaciador.
Eu nunca utilizei nada da Magda.
Juro!
Ok, à excepção de uma manteiga com sabor a alho, que ela tinha no frigorífico.
E acho que ela não descobriu o meu esquema para detectar roubos no meu amaciador.
Por isso, só pode ter sido o tal vírus a levá-la a colocar os avisos.
O vírus adicionado à sua tendência para decorar a casa com gravuras escritas num português mais que correcto.
Veja-se o exemplo daquilo que deveria ser um “é meu” transformado num “e meu”.
Recordo que ambos os avisos são compostos por seis palavras, uma das quais é o nome dela, no qual ela nunca daria um erro (e até já nem sei…)
Sendo assim, fica uma percentagem de 20 por cento de erro.
Ou seja, um erro em cada cinco palavras que ela escreve.
Tentem fazer melhor, miúdos de seis anos…
Gostaria ainda de voltar a chamar a atenção para um facto que já referi neste texto.
Na casa só vivo eu e ela.
Sendo assim, para quê assinar os avisos?
A próxima gravura pode ser apelidada de tudo menos de rupestre.
Eu apelidar-lha-ia de bíblica, mas a comparação peca por modesta.
Pegue-se no número de palavras que Deus usou nos 10 Mandamentos e nas que Magda usou nesta gravura…
Na prática, Deus usou menos palavras para estabelecer as regras do mundo que Madga usou para estabelecer as regras da casa de banho.
Mas vamos lá analisar o conteúdo da mensagem, que é para isso que aqui estamos.
pode ler-se o primeiro parágrafo:
O primeiro mandamento do “banheiro” faz uma vez mais referência ao cabelo.
Começo a achar que a Magda tem algum preconceito em relação a esse “acessório” do corpo.
Isto apesar de ter cabelos longuíssimos na cabeça, pelo menos…
Claro que o que chama mais a atenção no primeiro mandamento é a palavra “neim”.
A minha curiosidade por esta palavra levou-me a pesquisá-la no Google:
367 mil resultados
Neim é o nome de uma banda de música… portuguesa.
É também a sigla para o Núcleo de Estudos Interdiciplinares sobre a Mulher.
Mas nada de ter encontrado enganos para a palavra “nem”.
Por isso, duvido que a Magda se tenha enganado.
Prova disso é o acento na palavra “àgua”.
Quanto ao segundo mandamento do banheiro, só tenho a dizer que é peculiar.
Pode ser lido.
Quando o li surgiu-me uma questão filosófico que para a qual se não encontrar a resposta temo jamais voltar a ser feliz:
- Como é que alguém “respinga” o espelho com “creme dental”, vulgarmente chamado de pasta dos dentes???
Escovará com a boca aberta para ver se os dentes estão a ficar limpos??
Falará enquanto escova??
Juro que não sei como isso é possível. Se fosse gel, saberia, agora “creme dental”??
O que qualquer português acha mais engraçado ao ler todas estas gravuras de Magda é certamente o uso do brasileiro corrente em substituição de palavras bem conhecidas do português de Portugal.
Mas tal substituição atinge tão grande equivoco no terceiro mandamento.
Para que compreendam isso, explico de antemão que por cima do autoclismo está colocado um vaso com uma planta.
Pronto, agora podem ler o mandamento.
Já sabem o que imaginei mal li este texto: coitada da planta… cheia de mer_ _.
Depois questiono-me sobre o que será o “absorvente”.
Aceito sugestões, mas para mim talvez sejam os pensos higiénicos.
Lindo, lindo é a enumeração de coisas que se pode deitar no cestinho.
Como se ela não tivesse sido já bem clara…
O último parágrafo pode ser lido.
No quarto mandamento, (mais uma vez a ideia do vaso com a planta vem à ideia, apesar de não me lembrar de uma forma como possa ser utilizado) as forças da natureza são realçadas, quase como um posfácio dos mandamentos.
A expressão “Para entrar ventilação” é utilizada em toda a internet por apenas sete páginas.
O que mostra que Magda é vanguardista.
Poderia ter colocado “entrar ar” ou até “sair o cheirete” mas preferiu “entrar ventilação” como se estivesse para chegar ao banheiro alguém como um aparelho de ar condicionado nas mãos…
Bem, pelo menos foi o que pensei.
Agora, sempre que vou ao “banheiro”, antes de fechar a porta olho para trás.
Não venha ela atrás para entrar com o “sugar” na mão…
PS.: Sim, o sugar é o extractor de fumo. Uma forma de ventilação, não??
Antes de mais convém esclarecer que esta gravura não foi escrita em minha homenagem.
Quando cheguei à casa já constava na casa de banho.
E como no meu quarto morava um rapaz, presumo que tenha sido para ela.
Infelizmente, esta gravura também já não existe.
Há dias atrás encontrei-a colocada no meio do vidro do armário colocado mesmo por cima do lavatório.
Presumo, mais uma vez, que a intenção fosse que eu o lesse bem...
Talvez tenha feito algo que desagradou à Magda.
Mas juro que se fiz não foi de propósito.
No entanto, essa mesma localização fez com que o vapor dos banhos o "descolorasse".
E Magda lá entendeu retirá-lo, depois de ter ficado parecido com as gravuras de Foz Côa.
Do que gosto mais na gravura é da expressão "pra mim limpar".
Para além da forma reduzida da palavra "para" (reparem que isto não é escrita de messenger) o uso do "mim" em vez do "eu" revela inovação.
Recordem que há outras gravuras espalhadas pela casa.
E também com erros.
Assim, o coitado do meu antecessor não poderia duvidar de quem pintou a gravura.
Depois, reparem na subtileza dos exageros de Magda.
O "cheio" sublinhado para dar maior enfâse, como se de facto o banheiro estivesse cheio de cabelo que ela não pudesse entrar nele.
Depois, os lugares por onde há cabelos: chão, tapete e pia.
Acho que neste caso ela foi amiga do rapaz, porque na casa de banho há também um armário e até um vaso, de que falarei na próxima gravura.
De certeza que da maneira que ele deveria ser, até o vazo ficava cheio de cabelos...
Bem, já estou a imaginar que aqui deve ter morado o Tony Ramos.
Só pode... com tantos cabelos...
É que ela ainda por cima diz "está ficando" e não "fica".
O que pressupõe que se ia acumulando...
Ela só pode dar graças pelo rapazinho limpinho que tem agora...
AVISO: ESTE POST PODE CAUSAR DORES DE CABEÇA
A mim, pelo menos, causou...
Só uma semana depois de instalado cá em casa é que decifrei o próximo aviso.
Até lá, sempre que me cruzava com ele na cozinha fazia de conta que não o via.
Para não ter de o tentar decifrar.
Como ás vezes gosto de ser mauzinho, não o vou explicar.
Fico à espera das vossas sugestões...
Boa Sorte!
Devo um pedido de desculpas aos meus leitores por não ter produzido nada no blog, nos últimos dias.
Só peço desculpas porque temas não faltam.
Mas a internet não anda boa cá em casa, o que até já produziu um discussão... mas sobre ess assunto escrevo numa próxima.
Neste post voltamos aos avisos cá da casa. Ao segundo de cinco.
Se tinha dúvidas se estes avisos eram arte contemporânea ou enigmas, a resposta está neste: SÃO ENIGMAS.
Boa sorte a quem o decifrar...
Se este aviso não existisse, a gente saberia que depois de utilizar um electrodoméstico deve desligar a tomada.
Mas, depois de lermos este aviso ficamos com a dúvida sobre o que devemos fazer.
Depois de desligar o electrodoméstico devemos ligar a tomada???
Mas isso é o oposto do que era suposto fazer.
O melhor é mesmo não utilizar o electrodoméstico...
PS: reparem que electrodoméstico está escrito na forma brasileira, sem o "C" antes do "tro" .