A minha aldeia quer casar-me
Eu sou um moço de aldeia.
Com cerca de três mil habitantes nos arredores de Guimarães.
E por vezes sofro muito com isso.
Os últimos quatro dias que lá passei foram muito intensos.
Toda a gente me quer casar.
“Já tens namorada?”, era a frase que seguia o habitual “Olá”.
À resposta negativa demonstravam admiração.
Para os meus conterrâneos não faz sentido eu ainda continuar solteiro.
E por isso juntaram-se para me resolver o “problema”.
Recebi bolos rei decorados com fotos das filhas solteiras.
Sempre que me cruzava com alguma moça com idade para já ter juízo ela deixava cair algo.
Um lenço, por exemplo, na esperança que eu o apanhasse para elas poderem dizer: “Salvaste a vida ao meu lenço. Estarei-te sempre grata. Em que é que te posso ajudar?”
As primeiras ocorrências deste género deixaram-me enternecido.
Quando as mães com filhas por casar começaram a fazer marketing comecei a responder com risos amarelos.
No momento em que a própria família entra na campanha “Vamos casar o Peter” a piada evapora-se toda.
Uma prima que tenta aproximar-me de uma outra prima…
“A minha prima é perfeita para ti e assim só tenho que dar uma prenda no casamento!”
Até os próprios sobrinhos se juntaram numa espécie de manifestação com palavras de ordem e cartazes dizendo: “Queremos uma tia fixe! Já!”
Aqueles que poderiam ser quatro dias maravilhosos para rever as minhas origens acabaram por ser… não um inferno, mas quase.
Senti-me demasiado perto de altar.
À noite acordava com pesadelos de que poderia acordar no altar, atado a uma cadeira com o padre a perguntar se aceitava a mão dela em casamento.
Olhava para o lado e gritava.
Com o grito acordava e não cheguei a ver a face dela.
Mas para gritar…