Nos meus planos para ontem só uma coisa correu mal.
A consulta no dentista.
Andava a adiar uma visita ao senhor da “cadeira mágica”, mas teve que ser.
E quando a marcação teve de ser para o dia 7, até achei conveniente, pois iria tirar o dia de folga.
Mal eu sabia que iria reviver pesadelos de criança.
Acho que até posso ter descoberto o motivo pelo qual as crianças têm quase todas medo de ir ao dentista.
De certeza que é por são ingleses os dentistas que aparecem nos sonhos delas.
Mal entrei na sala dos tratamentos comecei logo a estranhar o aspecto.
Tudo muito pequeno para quilo que eu chamaria de consultório.
Pouco maior que o meu quarto.
Primeira pergunta do homem de bata branca: “A consulta é pelo NHS? (serviço nacional de saúde inglês)”
“É sim!”
“Então este check up vai custar 16,20 libras!”
“Mas eu vou precisar de tratar este dente que me tem doído…”
“Huuuum, mas aqui só diz check up. Bem, vamos tirar um raio-x e depois logo se vê”
Cá na Inglaterra os dentistas dão orçamentos.
Raio-x tirado e sou mandado para fora da sala, enquanto que ele é revelado.
Entra outro paciente.
Dez minutos passados, o outro paciente sai do consultório e eu volto a entrar.
“Bem, de facto este dente tem um buraco bem grande. Precisa de ser tratado. Quer com ou sem mercúrio?”
Não estava a perceber a pergunta e perante a minha indecisão, o homem volta à carga.
“Dizem que o mercúrio faz mal, por isso começamos a usar preenchimento sem isso, mas que custa mais caro.”
“Tem de ser privado o tratamento, não dá pelo NHS?”
“Pelo NHS só se for com mercúrio!”
“E quanto custa sem mercúrio?”
“Bem… por ser a primeira vez que vem cá faço-lhe 40 libras, o que é muito barato!”
“Ok, pode ser.”
“Mas vai ter de esperar que trate o outro paciente, porque não estava previsto o seu tratamento.”
“Ok, não há problema.”
Volto a sair do consultório, e de volta à sala de espera, onde aguardava por mim mais uma dose de música de filmes de cowbois e uma televisão com fotos de doenças dos dentes intercaladas com fotos de flores e bonitas paisagens.
O filme ainda estava longe de terminar.
Regresso para o tratamento já depois de ter pago 56,20 libras e já instalado na cadeira fico apavorado com o dentista a esguichar com a seringa da anestesia para o ar.
“Vai doer um bocadinho, mas depois não dói mais.”
Já doia e a primeira de três injecções ainda não tinha começado.
Três doses depois já eu suava.
Com as gengivas a crescer começo a salivar-me.
Mas nada de aspirador de saliva…
Durante o tratamento o meu peito serve de bandeja para colocar as ferramentas.
Termina as "obras", e eu ainda sem aspirador, quando já tinha mais de um litro de saliva dentro da boca e 350 gramas de bocados do dente que ele tratou.
Bebo água e quando vou para bochechar os dentes sai um géiser boca fora.
Tinha o lado direito todo dormente.
Nem a orelha sentia.
Se arranhasse o couro cabeludo daquele lado só ouvia o cabelo a ranger.
Eram sete horas quando o pesadelo terminou.
Passa pouco da meia-noite quando escrevo este post e ainda tenho a gengiva dormente.
Há minutos atrás ainda só sentia a ponta da língua.
Era como se essa parte do corpo estivesse a levitar dentro da boca…
O gajo deve-me ter confundido com um cavalo, só pode.
Percebem agora porque não houve jantar para ninguém?
Estou cheio de fome, vou comer uma sopa enlatada.
Se fosse uma criança prometia que não ia mais a dentistas.
Como sou adulto e responsável prometo que não vou mais a dentistas… ingleses.
PS: xiça, que isto ficou bué de grande...