A minha aldeia
É tão bom regressar à nossa aldeia, e rever gente que nos conhece desde pequenos.
É sentirmo-nos em casa.
E a sensação de termos imensa gente a quem darmos bom dia é sensacional, faça-se a redundância.
E as pessoas lá vão respondendo:
- Olá Luís.
Tudo seria perfeito se fosse esse o meu nome.
Mas não é.
É o do meu irmão.
Bem mais velho.
E como ele viveu toda a vida na aldeia - superior já a 40 anos - as pessoas usam o nome dele para nós os dois.
Será o mesmo que chamar Planta a todas as margarinas [tinha escrito manteigas].
Ou Kispo a todos os casacos feito num pano que faz barulho quando roçamos as mangas no corpo.
Há uns anos atrás, quando era ainda um sonhador e pensava ser possível não me chamar Luís na minha aldeia, eu ainda corrigia as pessoas.
- Não é Luís, é Pedro.
- Ah pois é. Desculpa, mas confundo-me sempre.
- Eu sei, rosinha.
- Rosinha!? Não me chamo Rosa!
- Ah pois é, Desculpe.
Mas penso ter sido por volta dos 20 anos que me resignei a ter dois nomes.
Aquele que uso em S. Cristóvão de Selho, a minha aldeia.
E que é o do meu irmão.
E o que uso no resto do mundo, e é o meu nome de batismo.
Uma explicação.
Quem nunca viveu numa aldeia desconhece que as mulheres mudam de nome por altura do casamento.
Uma espécie de ritual de amadurecimento.
Quem é Rosa fica rosinha.
As Laurindas passam a laurindinhas.
Maria é substituído por miquinhas.
Teresinha é o substituto de Teresa.
Fátima dá lugar a fatinha.
Estes só para me referir às mulheres da minha rua.
Os “inhas” das aldeias serão o equivalente aos “donas” das cidades.
Regressar à aldeia de onde saí há nove anos pode também ser estranho.
Uns crescem, outros mudam-se, e a percentagem de pessoas que conheço desce a pique. Actualmente, as caras que conheço rondarão os 30 por cento.
Já os nomes não serão mais de 5 por cento.
Isto num universo a rondar os 3000 habitantes.
E tirando a minha família (cerca de 10 pessoas) mais uns quantos amigos, serei para sempre Luís, em S. Cristóvão de Selho.
É tão bom sentir-me em casa…