O prazer de viver numa rua sem saída
Às vezes, enquanto caminho da estação de metro para casa, lembro-me de como é bom morar numa rua sem saída.
A ausência de trânsito traz um silêncio maravilhoso à casa.
O pouco movimento de pessoas, o número reduzido de bêbados à noite, são algumas das vantagens.
Ao longe um esquilo salta de uma árvore e comprova o que escrevo no bloco enquanto caminho.
Um bloco de capa dura que custou uma libra.
Conforme me aproximo da casa posso ouvir o vento a fazer-se sentir nas árvores e nas ervas daninhas gigantes, que dificultam o caminho pedonal.
É bom viver num beco sem saída.
Gostava de poder viver sempre numa estrada sem saída.
Estou já muito perto de casa e quase convencido de que esta não podia ser mais perfeita até que começo a ouvir uma batida.
E aí vem-me à memória que no quarto por baixo do meu mora um metro e meio de gente, com um manjerico na parte de cima.
E ainda por cima um manjerico no qual se passarmos a mão não ficamos com um perfume agradável, mas com o cheiro a quitoso.
Aquele a quem aqui já chamei de “Marco Paulo em início de carreira”, mas que terá de ser rebaptizado de manjerico, por ser mais curto.
O tal que é aspirante a DJ, mas que desconfio que nunca o deixará de ser.
Alguém que fala a mesma língua que Camões, para sua infelicidade [de Camões].
E quando o próprio Camões – que segundo consta era uma pessoa super sociável - não vai à bola com uma pessoa, como poderei eu dar-me bem com ela?
Meto a chave na porta e apetece-me ir para trás, para junto das ervas daninhas.
Voltar a ouvir o vento a roçar nelas.
Mas não, teimo em diariamente entrar e sofrer com batidas até perto das 23 horas.
Agora que foi colocada essa hora como limite.
Depois do manjerico ter subido mais alto que o metro e meio, devido à ajuda das minhas mãos no seu pescoço.
PS: Repararam na minha subliminar alusão ao S. João?