O Meu Seat Ibiza
Tenho saudades do meu Seat Ibiza dois lugares de 1994. Cor que já foi cinzenta e uma pintura desbotada. Tem ainda amassadelas dos dois lados. Uma das portas custa, inclusivamente, a ser aberta. Resultado de dois choques com rails. O meu carro já foi uma das minhas grandes paixões. Até ao dia em que tive de o deixar sozinho, em Portugal. Mas ando com uma foto dele na carteira. Nunca mais esqueço o dia em que lhe coloquei uma antena para apanhar as estações de rádio. Tão alta que cria uma resistência aerodinâmica e o carro passou a andar menos 10 kms/hora. Depois veio o dia em que tive de comprar um botão novo para o vidro eléctrico da porta do passageiro. Como não havia perto da minha casa concessionário da Seat, e sabendo que algumas peças da Volkswagen davam nos Seat, comprei o botão nessa outra marca. Mal eu sabia que os botões da Seat davam luz verde e os da Volkswagen davam vermelha. Desde esse dia que o interior do meu carro é alusivo ao Natal. Mas o acessório de que mais me orgulho no carro é o rádio. Não tem leitor de CDs. Já teve leitor de K7s, mas há muito que deixou de funcionar. Por isso, só posso ouvir rádio. Na coluna da esquerda, porque a da direita não funciona. Bem, às vezes funciona, quando passo por algum solavanco. Funciona até voltar a passar no solavanco seguinte. Nunca comprei um rádio novo porque não queria duplicar o valor comercial do meu carro. Embora isso estivesse constantemente a acontecer sempre que enchia o depósito de combustível. O meu Seat não tem ar condicionado. Tem uma coisa mais antiga a que chamam de ar forçado. Mas aquelas peças que servem para abrir/fechar e direccionar esse ar já há muito que partiram. Gosto de pensar que o ar condicionado do meu carro é abrir os vidros no verão e fechá-los no inverno. Ah, o desembaciador do vidro de trás ainda funciona. Assim como as escovas do limpa-vidros. A chave é que já tem uma manha para colocar o carro a funcionar. Mas assim também o risco de roubo é menor. Eh, Eh. Boa piada. Quem é que quereria roubar o meu carro. O último ladrão que o tentou roubar acabou por me deixar uma nota de 5 euros e um recado. “Uma pequena ajuda para a compra de um carro novo. Para que esse já dê mais vontade de roubar.” Acho que já nem os pássaros lhe cagam em cima. Mesmo deixando-o debaixo das árvores. Deve ser com pena dele, coitado. O pior da relação entre o meu carro e eu é que ando a pensar em vendê-lo. Estando cá não preciso dele. E quando regressar de vez logo se vê. Mas este Natal vou matar saudades dele.