. Porque os homens também c...
No sábado chorei.
De tristeza.
Mas sem motivos próprios.
Procurei um filme triste e vi-o até ao fim.
Sentia necessidade de chorar.
Quando somos demasiadamente positivos temos mais dificuldades em arranjar motivos por que chorar.
E só choramos de felicidade.
Por isso tive de procurar motivos na vida de outros (personagens) para encontrar a minha própria tristeza.
Um motivo pelo qual chorar.
E não é difícil.
Basta pensar em quão árdua é a vida de certas crianças e adultos, em alguns países em guerra ou em pobreza.
Necessitamos de nos recordar a sorte que temos em levar a vida que levamos.
Para valorizarmos o que já temos e tornar as nossas ambições mais realistas.
Porque para alguns, a maior ambição é simplesmente chegar ao fim do dia vivo.
E quão ridícula fica a ambição de ter um leitor Mp3 novo ao pé disso, por exemplo.
Somos egoístas!
Já não me lembro da última vez que chorei de tristeza com motivos próprios.
Mas lembro-me de uma vez em particular.
Talvez tenha sido essa a última vez.
Desculpem tê-los feito recordar coisas tristes.
Mas como eu, de certeza que estavam a precisar.
Devem pelo menos concordar comigo nisso.
Hoje, antes de sair de casa, fiquei melancólico.
Com um vazio bem grande cá dentro.
Ao contrário de outras vezes, desta vez sei o motivo. E não sou o único.
Apaguei todas as músicas mais animadas do meu mp3, coloquei Keane e outras músicas para pensar, e saí de casa.
Três currículos entregues em bares ou cafés e depois pus-me a passear em Oxford Street, uma das ruas mais comerciais e movimentadas de Londres.
Mas caminhava de uma forma diferente do que vinha fazendo até então.
Caminhava e olhava para as pessoas. Para os rostos.
Já não olhava para as portas e vitrinas das lojas com o intuito de encontrar um papel a dizer “Staff Wanted”.
Olhava para os rostos na busca de alguém com um vazio maior que o meu.
E acredita, não encontrei.
Só via sorrisos.
Quer dizer, havia loiros e morenas, altos e baixos, feios e bonitas, cheirosos e sem odor, convencidas, confiantes e tímidos.
Mas com sorrisos no rosto, ou pelo menos a ausência de tristeza.
Senti-me uma das pessoas mais tristes de Londres.
Porque também há dias assim.
E se não houvesse maus dias, os bons deixariam de o ser…